Em 2022, recebi uma foto de um perfil no Grindr com a foto de P.A. Quando o confrontei, ele negou veementemente, dizendo que não era ele. Na época, acreditei. Só depois, em meio a uma discussão, ele admitiu que "poderia ter sido" durante um breve término que tivemos, e que meus amigos estavam tentando nos separar. Mas a dúvida já estava plantada. Foi nesse ponto que ele deixou de falar com meus melhores amigos, pois eles estavam fazendo o papel de amigos em me avisar uma coisa como essa.
P.A. sempre foi ciumento. Brinco muito, sim, mas sempre com respeito e limites claros. Tenho um melhor amigo, com quem mantenho uma amizade descontraída de 30 anos, e tantos outros com quem interagimos de forma jocosa, mas sei até onde posso ir. Anderson, no entanto, transformava qualquer brincadeira em acusação, qualquer olhar em outra direção era porque eu estava olhando para outro homem — dizia que eu era "puta", que ficava com outros, que recebia mensagens indevidas. A relação foi se desgastando, e as cobranças absurdas só aumentavam.
No ano passado, realizei a minha festa de aniversário no dia 21/12/2024, na casa do meu melhor amigo, César, que sempre me empresta o espaço para a celebração. Um dos convidados era Afonso, um conhecido que P.A. detestava desde o episódio do Grindr — Afonso era quem havia enviado a foto do perfil suspeito em 2022. P.A. já chegou fechado e de cara feia na festa, mas tudo piorou quando Afonso chegou. Ele ignorou Afonso e, antes mesmo da festa acabar, fez um escândalo, dizendo que eu só pensava em mim, e que eu havia colocado ele numa situação chata. Falei pra ele que, se ele estava tão incomodado com uma coisa que ocorreu em 2022, ele tinha rabo preso: ou era ele realmente no Grindr falando com Afonso, e na conversa inclusive, dizendo que tinha muito tesão nele, ou eles foram para os finalmente e ele era a prova de que não era fiel. P.A. foi embora para casa, tomou banho e saiu com as amigas para um bar chamado Casa Bacurau, um inferninho aqui da minha cidade, voltando só às 3h da manhã, bêbado.
No dia 22/12/2024, num domingo, eu precisei acordar cedo para tomar café da manhã com meu primo, que estava hospedado aqui em casa por causa da festa de aniversário, e precisei acompanhá-lo até o ponto de ônibus para que ele fosse para o interior. Quando voltei para casa, P.A. já estava pronto para fazer sua cena. A discussão foi interminável, ele pediu desculpas, e eu disse a ele que não perdoaria e trouxe à tona que, no aniversário dele, eu havia ficado lá, recebendo todos os amigos dele, conversando, e que nenhum deles tinha uma vírgula para falar sobre meu comportamento. Ele não era obrigado a falar com quem ele não queria no meu aniversário — tinham diversas pessoas lá para ele interagir, inclusive uma melhor amiga dele que chegou depois e, quando soube do ocorrido, foi embora.
No dia 23/12/2024, meu aniversário oficial, ele acordou me servindo café da manhã (café com ovos) e, mais tarde, comemos uma cesta que ganhei da empresa. Parecia um gesto de reconciliação, mas foi só fachada. P.A. não respeitou a data e acabou por desrespeitar minha mãe na frente do filho dele, que assistiu tudo atônito, gritando com ela, chamando sua casa de "puteiro" por ela supostamente receber os ex-namorados da minha irmã. Detalhe: minha irmã, Jamille (com quem não falo há 8 anos), havia jogado para minha mãe a responsabilidade de receber meu ex de Salvador, que são bastante amigos e com quem mantenho uma relação cordial. Minha mãe, sem condições de hospedá-lo, veio me pedir uma orientação e explicou a situação, e P.A. a insultou, se metendo numa conversa que ele não tinha sido chamado. Não foi a primeira vez — ele já havia desrespeitado minha avó antes com palavras tão baixas quanto. Ele tentou se explicar, e eu disse para ele que "não lembrava em qual momento eu o deixei confortável o suficiente para desrespeitar minha mãe".
No 27/12/2024, depois de um Natal até bacana na casa da família dele (que ele sugeriu que eu não fosse), P.A. me deu um ultimato: "Precisamos resolver tudo até 1º de janeiro, ou terminamos." Ele alegou que não queria começar o ano com problemas, já que estava prestes a ingressar na faculdade (passou na Federal Rural e numa universidade particular e iria cursar os dois). Eu rebati: "Como resolver seis anos de relação em três dias? Você está programando um término." Ele respondeu que não e tentou amenizar a situação.
Passamos o Réveillon separados — ele disse que estava de plantão. Em fevereiro de 2025, as ameaças de término se intensificaram. Numa quarta-feira, pedi que ele levasse nossa cachorra, Ágata, ao pet shop. Ele recusou, dizendo que faria no dia seguinte. Durante o jantar, tentei abordar assuntos importantes, mas ele me interrompeu com temas aleatórios, ignorando minhas preocupações. Fiquei irritado e fui para o quarto. As coisas somente eram conversadas quando era do interesse dele. Bem como, todas as programações de casal giravam em torno do que ele gostava ou queria fazer.
No dia seguinte, ele levou Ágata e, quando pedi que trouxesse um remédio, já que estaria de passagem pelo local, respondeu com deboche: "Você só fala comigo quando precisa de algo." Ele trouxe o remédio, mas jogou na mesa e disse: "Não é obrigação minha. Cuide dos seus problemas sozinho."
Mas aí vem o grande B.O, mas não o maior de todos.
Uma semana antes desse rompante por causa de um pedido simples por medicamento, enquanto nos organizávamos para ir na casa do meu melhor amigo tomar um café e jogar conversa fora, ele deixou o computador aberto no quarto em que trocávamos de roupa. Nunca fui de invadir privacidade alheia, mas algo naquele cenário que vinha se apresentando me chamou a atenção. Resolvi acessar o navegador dele e procurar por alguma coisa. E, como diz aquele ditado, quem procura acha. No Twitter, encontrei uma conversa de 27/12 (o dia do ultimato) com um homem chamado "Jogador Paizão". P.A. mentiu, dizendo que morava em uma cidade próxima da nossa, e o cara enviou fotos explícitas, das quais ele comentou sobre elas e até passou o número de WhatsApp. Simplesmente fechei a tela do Twitter dele e desci as escadas como se nada tivesse acontecido, e assim permaneci por uma semana, esperando apenas um rompante por parte dele para trazer isso à tona. Meu psicológico ficou atônito quando contei que não desci as escadas querendo comê-lo vivo. Uma pessoa em acompanhamento psicológico é outra coisa.
Foi quando, na sexta-feira, dia depois que Ágata foi ao pet shop e o incidente do remédio, ele finalmente anunciou que ia embora. Na verdade, não anunciou: subiu as escadas de casa e foi para o outro quarto organizar as coisas sem me comunicar. Quando quase tudo estava embalado, ele veio até mim informar que estava indo embora para a casa da mãe dele. Ele queria que eu fizesse uma cena digna de Hollywood, que fosse no outro quarto e desfizesse as malas dele. Eu apenas concordei com a ida dele, e ele me perguntou se eu não tinha nada para falar para ele. Foi quando eu o confrontei:
"Você me acusou de traição por anos, mas quem estava procurando outros era você."
Contei sobre a conversa que eu tinha lido, com detalhes. Ele empalideceu, ficou minutos calado olhando para a minha cara, tentou justificar dizendo que estava "deprimido na relação", mas eu cortei:
"Seis anos me chamando de puta, e você é quem traiu. E nem foi a conversa que me deixou chateado, porque não sou maluco de achar que essas coisas não aconteciam. Eu te conheci e você ficava com 7 caras diferentes, as conversas não são uma novidade. O que me deixa puto é que eu passei esse tempo todo na relação sendo acusado de uma coisa que quem fazia era você."
Ele chorou, levou suas coisas para a casa da mãe e, depois de uma semana afastados (como sugeriu meu terapeuta), voltou querendo "reatar" diversas vezes. Por ligações, aparecendo subitamente. Recusei:
"Não quero uma relação sem confiança. Você vivia reclamando que a relação estava tão ruim, que não aguentava mais, arrumou as malas e tudo e agora você quer ficar? Não faz nenhum sentido."
Foi assim que, numa dessas ligações e tentativas, ele notou que não tínhamos mais volta e explicitou que gostaria de falar sobre o financeiro. Com isso, eu complementei que, se eram sobre as dívidas referentes à casa que ele havia deixado, que ele não se preocupasse, pois eu daria um jeito. Foi quando ele soltou:
"Precisamos falar sobre a pensão."
Pensão?!
Ele, que me traiu, queria que eu bancasse ele financeiramente porque "agora teria que começar do zero". Ri na cara dele:
"Você tem um apartamento no seu nome que você adquiriu enquanto estava comigo, enquanto eu pagava a maior parte das coisas da casa e você pagava a parcela do apartamento. Se quiser, venda. Mas pensão? Nunca."
Desliguei o telefone e disse que ele tinha chegado baixo demais e que não queria mais conversar com ele, e que parasse de me ligar e perguntar se eu estava bem. Após encerrar a ligação, ele insistiu por mensagens, dizendo que ia na minha casa para conversarmos pessoalmente. Eu fui firme e disse que não, que iria sair e que não queria vê-lo. Prontamente falei com meu amigo advogado.
Saí de casa e fui tomar umas cervejas com amigos — era Quarta-feira de Cinzas — e retornei às 2h30 da manhã. Ele tinha invadido minha casa, mesmo eu dizendo para ele não vir, mesmo eu dizendo que não queria vê-lo. Tudo isso pedindo para voltar, ameaçando matar a próxima pessoa que se relacionasse comigo. Precisei ser o mais enfático possível, dizendo que eu o amava, mas não gostava mais dele, como parceiro, como pessoa. Era chato estar na companhia dele, eu me sentia tolhido, preso, com medo de um rompante.
Ele me ligou no outro dia, me chamando para sair no sábado. Quando eu perguntei "você tem certeza disso?", ele perguntou o que havia de errado nisso. Mais uma vez, explicitei:
"Não vou voltar para você, não adianta continuar tentando. Pare. Eu não vou voltar, e é definitivo."
Depois disso, ele me bloqueou e desapareceu. Algumas noites depois, sua mãe me ligou para conversar. Eu já havia falado antes com sua irmã - que adoro - sobre assuntos aleatórios, e ela me contara que o P.A. havia orientado a mãe deles a não me contatar, alegando que "tudo estava resolvido". Mas ela ligou mesmo assim.
Na conversa, fui claro desde o início: "O que vou contar não é para mudar sua visão sobre seu filho. Ele é seu sangue, e entendo perfeitamente se você ficar do lado dele nisso tudo". Ela ouviu atentamente, fez alguns comentários e ficou visivelmente chocada - especialmente com a parte da pensão. Percebi uma certa preocupação em sua voz quando o assunto envolveu os bens adquiridos durante o relacionamento.
"Fique tranquila", disse. "Não quero o apartamento. Sei muito bem o quanto a senhora se esforçou para dar a entrada. Por mais que eu tenha direitos legais sobre ele - afinal, ele viveu aqui comigo durante anos enquanto eu bancava tudo como se fosse meu filho - sei que o apartamento pertence ao Gabriel, meu ex-enteado."
Se eu fosse mesmo o canalha que ele está pintando por aí em sua versão distorcida da história, teria ido à justiça para tomar metade daquele apartamento. Mas não sou esse tipo de pessoa. Deixo esse "presente" para a próxima vítima que ele envolver em sua vida.
Ao desligar o telefone, senti um peso enorme sair das minhas costas. Finalmente havia contado minha versão - crua, sem cortes ou fantasias - para uma das mulheres mais admiráveis que já conheci, alguém que tive a honra de chamar de sogra. Uma pena que o filho dela não herdou nem um décimo de seu caráter.
Semanas depois, estava na academia quando recebi uma mensagem de um perfil sem foto, questionando se eu e ele tínhamos uma relação aberta. Respondi que, aparentemente, era aberta para ele, não para mim. A pessoa completou dizendo que ele, sempre que estava em casa e eu ausente - trabalhando no escritório -, ativava o Grindr e procurava caras para transar. Não era mais novidade. Mas eu já não estava mais com ele.
No decorrer dos dias, outras pessoas me encontravam no aplicativo e mandavam mensagens relatando absurdos que aconteciam durante minhas ausências no trabalho híbrido. A verdade era que, nos três dias da semana em que eu não estava em casa, P.A. ligava o Grindr e saía com outros. Essas pessoas agora vinham me contar tudo; outras sabiam porque ele saía com amigos delas. Como prova, descreviam:
- As roupas que ele vestia;
- Seus hábitos sexuais;
- Características íntimas (sobretudo do pênis) muito específicas;
- Frases que usava durante o sexo;
- E o pior - o que me deixou mais enjoado, por ser uma prova incontestável - mencionavam uma erupção cutânea que ele tinha na nuca.
Eram detalhes íntimos demais - frases que só eu deveria conhecer, preferências sexuais que jurava serem nossos segredos, até particularidades do corpo que ninguém mais poderia saber. Cada revelação era uma facada.
Quando as mensagens começaram a chegar, meu corpo reagiu antes da minha mente. O jantar voltou com violência, minha pele se arrepiou toda. Três anos. Metade do nosso relacionamento ele passou mentindo, me traindo, me colocando em risco - eu, tolo, confiando cegamente sem proteção. Um erro que poderia ter custado minha saúde.
Os exames médicos, felizmente, mostraram que estava limpo. Mas a ironia me cortou como navalha quando lembrei das vezes que ele reclamava de ardência no pênis, sempre com aquela "brincadeira" acusatória: "Será que você andou aprontando por aí?". A culpa sempre foi o seu refúgio preferido.
Agora, mesmo depois de tudo, as pessoas insistem em me atualizar sobre a vida dele. Já deixei claro que não quero saber - cada informação nova só alimenta a raiva que estou tentando superar. Na última (e que seja realmente a última) notícia que ouvi, ele está espalhando sua narrativa distorcida: postando indiretas musicais pintando-me como o vilão da história, dizendo que "escapou" de uma relação tóxica.
Segundo essa versão fantasiosa, eu não o tratava como a mãe dele tratava - porque me recusava a entrar em discussões sem sentido, porque não aceitava seus joguinhos emocionais. Sua grande queixa? Minha independência. O fato de eu não depender dele, não dobrar meus desejos aos caprichos dele.
É o clássico roteiro do narcisista: reescrever a história, posar de vítima santificada para seu círculo de enablers, enquanto na realidade foi o arquiteto de todo o caos - interesseiro nas horas boas, explorador quando convinha, abusivo quando confrontado. Um canalha completo, embalado em embalagem de homem perfeito.
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