quarta-feira, 3 de novembro de 2021

No meio do caminho, algo quebrou


Tenho pensado em te ligar. Não pra dizer que precisamos voltar, nem nada disso. Tenho sentido a necessidade de dizer que estou morrendo de saudades.

Passaram-se algumas semanas e eu nem tenho me alimentado direito, o cheiro do sabonete me faz chorar. Todas as noites eu sonho contigo. Sabe, outro dia jurei ter ouvido sua risada dentro de casa e Ágatha está com saudades. Eu também estou. Tenho ouvido a mesma música num loop infinito, tenho chorado mais que o necessário, minha armadura não engana mais ninguém e a dor que eu sinto parece querer ser maior que o meu orgulho.

Também tenho recebido alguns conselhos, alguns deles não fazem o menor sentido. Outros parecem ensaiados: o mar cheio de peixes que me apontaram não me parece nada tentador, de verdade.

E era isso que eu queria que você soubesse, que apesar de ter sido eu quem tenha colocado um ponto final nisso tudo, tenho arcado com as consequências da pior maneira que eu poderia esperar. Eu tenho esmorecido um pouco, todos os dias.

Agora os dias se arrastam preguiçosamente e nada parece fazer muito sentido. Os pequenos prazeres da vida adulta perderam a graça. Tenho tentado aproveitar a minha companhia, mas tudo o que sinto é um enorme vazio. Porque eu ainda olho para o relógio e espero a hora de você voltar pra casa? E eu sinto muita raiva, todo o tempo. Tenho me sentido mais cansado que o normal. Me pego divagando em pensamentos confusos. E mesmo com tantas saudades, tenho me forçado lembrar das vezes que você fez eu me sentir mal, tentar sobrepor tudo o que foi bom.

E essa balança uma hora vai quebrar.

Parece que é necessário sonhar todos os dias, até que um dia, simplesmente os sonhos parem. E eu queria que parassem logo, de pronto, de agora. Porque eu tenho lembrado de todos os nossos bons momentos, tenho sentido seu cheiro pela casa e isso vem me matando aos poucos. Tenho tentando me lembrar de tudo aquilo que me fez correr pra longe de você, tenho trazido pra mente a imagem do que quebrou dentro de mim e que aparentemente não existe conserto. Hoje recebi algumas mensagens indesejadas e percebi que talvez não haja conserto, realmente.

Tenho querido te odiar, ou torcer para que você comece a me odiar. Seria mais fácil, pelo menos pra mim.

No meio do caminho, algo quebrou: ouvir da sua boca que você não confiava em mim, foi de longe a coisa mais cruel que alguém pôde me dizer. Depois de todas as minhas tentativas de ganhar algo que eu nunca tive. Perdi algo que nunca tive, algo que eu nunca entendi como perdi.

Foi ali, naquele instante eu algo estalou forte. Algo pareceu quebrar. Algo que viria a se esfarelar aos poucos com os solavancos da montanha-russa que é você.

Saiba que eu não arrumei ninguém, como você desejou saber através dos meus contatos próximos. Eu tinha você e não precisava de mais ninguém para me completar. Talvez o que eu precisasse era que você me desse uma carta branca, talvez eu tivesse sido mais feliz, tivesse me sentido mais a vontade dentro da minha própria pele. Nunca entendi porque eu carregava tanta culpa que não me pertencia, e isso me desgastava tanto... Pensei nisso durante dias enquanto estávamos juntos, alguns diziam que todo esse comportamento seu era porque você tinha culpa em algum cartório, sabe-se lá. Eu duvidava, eu sempre te dei carta branca, sempre pressupus inocência.

Eu sempre levei a culpa.
Sempre.

Você sabe te tudo isso, eu já te escrevi sobre. Mas sabe, ainda há tanta coisa dentro de mim que eu gostaria de dizer, ou talvez eu vá apenas chorar. Eu gostaria de me fazer entender, mas existe uma grande barreira, uma grande falha, as minhas tentativas de me fazer entender nunca foram vistas com bons olhos. Sempre haviam objeções e argumentos.

Nas várias discussões em que eu preferia ficar calado, eu não argumentava com você por não gostar de você, eu não sentia ciúmes de você por não amar você. Não era isso... Eu só estava cansado. Sentir ciúmes de você não adiantaria, estávamos juntos, mas eu entendi desde o início que você não era propriedade minha. Sempre achei tolice alguém parar a vida para se preocupar com esse tipo de coisa. Quanto ao seu ciúme, bom, tentei me adaptar, me adestrar, e aos poucos isso foi me minando. De alguma maneira você estava muito confortável e não pareceu notar.

Eu não arrumei ninguém.
Eu estou cansado.
Machucado.

Semanas se passaram e bem sei que não há como restaurar o que foi perdido, quebrado. Palavras foram lançadas, o jogo seguiu sendo jogado e como disse, nao venho atrás de redenção, não irei voltar atrás com minha palavra. Escrevo para você pois não prometi que não o faria. Quero que saiba que eu amo você, apesar de tudo. E choro ao escrever isso porque me machuca muito sentir isso e não conseguir passar por cima de uma ferida aberta que me têm me consumido muito. Eu (verdadeiramente) sinto muitas saudades suas, tenho sentido muita vontade de falar com você, tenho me sentido só. Pra mim é muito estranho saber que você está por aí, vivendo a sua vida sem mim. Não sei se pensar nisso te faz sentir um pouco incompleto, isso tem me aterrorizado um pouco todos os dias.

Talvez me falte tempo.

Talvez.

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